— O que pode um corpo?, pergunta o filósofo.
Nós, foliões e foliãs, perguntamos: o que pode um bloco?
Multidão de corpos misturados pela embriaguez da música, pelas cores das fantasias, pelo balanço do mar de gente, do qual felizmente fazemos parte.
Somos o mar e seu balanço, o barco que o navega e sua tripulação. O batuque nos dá compasso, cada instante denso traz um momento de glória ou tragédia. A vida é muito mais vívida, intensamente vivida, durante o Carnaval.
Nesse ano de 2021 ficaremos privados de Carnaval.
Os encontros daqui, virtuais, serão nosso descarnaval.
O Carnaval não aceita a virtualidade, assim o buscaremos de outras formas, lembrando, discutindo, especulando sobre ele. Contando histórias de Carnavais passados, de sambas gloriosos de hoje e de outrora, dialogando com figuras que se relacionam com o fenômeno carnavalesco de diferentes maneiras.
Nosso programa Abre-alas conta a gênese da Panamérica Transatlântica, nave-mãe que, com esse podcast, começa a procriar.
Sejam bem-vindas e bem-vindos; e que Momo, Baco e Vênus possam nos guiar como no Bacanal de Bandeira, mesmo guardados em casa, longe da folia.
BACANAL
Quero beber! cantar asneiras No esto brutal das bebedeiras Que tudo emborca e faz em caco... Evoé Baco! Lá se me parte a alma levada No torvelim da mascarada. A gargalhar em doudo assomo... Evoé Momo! Lacem-na toda, multicores As serpentinas dos amores, Cobras de lívidos venenos... Evoé Vênus! Se perguntarem: Que mais queres, Além de versos e mulheres?... - Vinhos!... o vinho que é meu fraco!... Evoé Baco! O alfanje rútilo da lua, Por degolar a nuca nua Que me alucina e que eu não domo!... Evoé Momo! A Lira etérea, a grande Lira!... Por que eu extático desfira Em seu louvor versos obscenos. Evoé Vênus!
Manuel Bandeira
Criação, texto e voz: Dado Amaral
Produção e edição: Antoine de Mena e Dado Amaral
Realização: La Centrale 22
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