Quem a viu em campo disse que joga muito. Quem compõe com ela só elogia. A bola eu não sei, mas a palavra Manuela domina com mestria. Muito da força do samba História Para Ninar Gente Grande vem de seus versos. Em 2020, ela teve mais um samba-enredo vitorioso na Mangueira, A Verdade Vos Fará Livre, que diz coisas como
Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem messias de arma na mão
Manu da Cuíca é voz forte, boa de se ouvir. Tem muito a dizer e diz. Nossa conversa foi franca e teve a participação especial de Havana, sua filha. E de um cachorrinho que se quis fazer escutar. Falamos pouco sobre futebol, mas muito sobre Carnaval e samba. E política.
— O que você pensa do Carnaval de 2021?
Cara, quando tiver vacina a gente conversa. Sem vacina não tem Carnaval.
Às 7h da manhã do dia seguinte em que as pessoas estiverem vacinadas, vai ter gente na rua fazendo o diabo. O espirito do Carnaval vai se dar no dia seguinte da vacina.
# Manu da Cuica mantem este blog, uma compilação de seus textos e canções.
História Para Ninar Gente Grande
(Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Marcio Bola, Ronie Oliveira, Danilo Firmino, Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo)
Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra
Brasil, meu dengo
A Mangueira chegou
Com versos que o livro apagou
Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não está no retrato
Brasil, o teu nome é Dandara
E a tua cara é de Cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati
Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês
Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos Brasis que se faz um país de Lecis, Jamelões
São verde e rosa, as multidões
# Você pode ler a sinopse original de Leandro Viera aqui.
A Verdade Vos Fará Livre
(Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo)
Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também
Eu sou da Estação Primeira de Nazaré
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher
Moleque pelintra no buraco quente
Meu nome é Jesus da Gente
Nasci de peito aberto, de punho cerrado
Meu pai carpinteiro, desempregado
Minha mãe é Maria das Dores Brasil
Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira
Procura por mim nas fileiras contra a opressão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
Eu tô que tô dependurado
Em cordéis e corcovados
Mas será que todo povo entendeu o meu recado?
Porque, de novo, cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão
Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem messias de arma na mão
Favela, pega a visão
Eu faço fé na minha gente
Que é semente do seu chão
Do céu deu pra ouvir
O desabafo sincopado da cidade
Quarei tambor, da cruz fiz esplendor
E ressurgi no cordão da liberdade
# Leia aqui a sinopse original de Leandro Vieira para o Carnaval de 2020.
p.s. — E um grande abraço para o querido Ricardo Oiticica, que do céu vai sempre poder ouvir a força dos sambas novos da Manu.
Dado Amaral
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Criação, texto e voz: Dado Amaral
Produção e edição: Antoine de Mena e Dado Amaral
Realização: La Centrale 22
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