Alexandre Ribeiro Wanderley não veio ao mundo a passeio.
São quase 30 anos dedicados à luta antimanicomial e à reforma psiquiátrica, além do atendimento em consultório particular. Aquela luta, por vezes inglória, tem obtido vitórias importantes, como a recente derrubada do "Revogaço", golpe frustrado do governo federal contra a área de saúde mental.
foto: Pâmela Perez
Psicanalista e Doutor em Saúde Coletiva, Alexandre é um dos criadores do Coletivo Carnavalesco Tá Pirando, Pirado, Pirou, que desde 2005 alegra o Carnaval do Rio de Janeiro, levando o delírio a desfilar pela avenida Pasteur com usuários do IPUB, do Pinel e de diversos Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS), suas famílias, profissionais da saúde mental e foliões de toda espécie. Entre ser convidado a falar da luta antimanicomial no Congresso Nacional, organizar o movimento e orientar o carnaval do Tá Pirando, Pirado, Pirou, ele encontra tempo para seu trabalho de psicanalista, sua família e até para conversar conosco sobre samba, loucura e política.
Não foi à toa que quando Alexandre nos disse, em sua visita a La Centrale 22, que se realmente quiséssemos botar o bloco na rua, o Tá Pirando, Pirado, Pirou nos apadrinharia, aceitamos a proposta na hora. Naquele momento, a nau dos insensatos da Panamérica Transatlantica começou a se materializar. Nossa gratidão, querido Alexandre. Estaremos juntos no próximo Carnaval.
Aqui, Alexandre leva seu recado (e seu samba) antimanicomial ao Congresso Nacional:
"Tô Maluco, mas tô em obra"
Alexandre Wanderley, Aleh Ferreira e Luiz Cláudio dos Santos Eu vou te contagiar
Mas não tenha medo, meu irmão
Minha febre é de agüentar
Tanto tempo em reclusão
Vou soltar meu grito guardado
Há quantos anos nessa avenida
Já cansei de tanto esculacho
Mas não desisto da alegria
Seu D. Pedro não sabia
Que loucura não se prende
Não se esconde, não se cala,
Não se mata nem se ofende
Um poeta visionário
Ele não escutou
Mas agora vou lembrar
O que o Joe me ensinou:
“Não jogue fora a sua loucura, ela é real”
Entre nessa realeza, pra pirar o carnaval!
Prepara a aquarela, afina o violão,
Bota o molho na panela, enlouquece o barracão
Me desculpe, seu doutor
Há remédios pra loucura
O meu samba é resistência
Minha arte é minha cura
Um remedinho, pode ser
Se me faz bem não vou negar
Mas só se for pra temperar
A minha fome de viver
E se eu tiver que me internar
Segura as pontas, coração!
É só um pulo, você vai ver
Eu vou ali e volto já
Eu tô maluco, ô lará
Mas tô em obra, ô lerê
Me lapidando na Reforma pra valer
Eu tô maluco, ô lará
Mas tô em obra, ô lerê
Me lapidando na Reforma, pode crer
entrevista gravada em 07/01/2021
Criação, texto e voz: Dado Amaral
Produção e edição: Antoine de Mena e Dado Amaral
Realização: La Centrale 22
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